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Prólogo

Todos nós carregamos um passado. Uns o exibem com orgulho; outros, como eu, o guardam num canto escuro da memória, como algo que preferimos esquecer. O tempo pode apagar feridas, mas não apaga marcas. Eu aprendi a sobreviver me escondendo — e, por muito tempo, achei que isso bastava.

Nunca entendi muito bem por que as pessoas são tão curiosas e ao mesmo tempo tão assustadas quando se fala em passado. O meu? Eu tenho. Mas eu prefiro esquecer. Não porque me envergonho de quem fui, mas porque escolhi não ser mais aquela pessoa.

Foi num bate-papo despretensioso, em meio a uma noite, que encontrei alguém que me fez enxergar um pedaço de futuro. Não um futuro imponente ou promissor no sentido tradicional. Era um futuro livre. Simples assim. Livre de amarras, de medo, de obrigações que nunca escolhi carregar. Ela falava com uma leveza que me desconcertava — sonhadora, teimosa, cheia de vontades. Falava sobre liberdade como quem já nasceu com ela, mas lutava por cada pedaço como se ainda fosse prisioneira de algo invisível.

E foi ali, naquele momento, que algo mudou. Pela primeira vez em muito tempo, eu quis sair do meu esconderijo. Do cativeiro que eu mesma construí para me proteger da dor que vivi — e da dor que causei. Decidi, enfim, me permitir começar de novo. Ser alguém que eu ainda não conhecia, mas que queria muito me tornar.

Fui atrás dos recursos certos — e dos errados também. Coisas que ninguém ensina, caminhos que ninguém recomenda, escolhas que eu só conseguiria fazer em silêncio. Tudo para recomeçar. E aqui estou eu, hoje, nesta cidade que ela escolheu para escrever o primeiro capítulo da própria história.

Estou à espera. Do sorriso dela. Da coragem dela. Disposta a estar presente, a ajudar, a ser o que for preciso. Porque, talvez, no meio desse novo começo que é todo dela... eu encontre o meu também.

E agora estou aqui, ansiosa para acompanhar essa história.