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VII - A fogueira e aquela brisa que não vem só da mata

Quando o frio bateu, ele olhou pro fire pit e perguntou rindo se era hora da fogueira ou do chalé. Dei um soquinho no braço dele e disse que era da fogueira. “Pelo menos tu aproveita tudo daqui”, falei, antes de saltar nas costas dele. Fui de carona, gargalhando, enquanto ele tentava manter o equilíbrio e registrava tudo com uma selfie torta.

Descemos e enquanto eu juntava gravetos e papel, ele acendeu o fogo. As chamas subiram estalando e a conversa mudou de temperatura junto com elas. Ele perguntou quando foi a última vez que surfei. Joguei um graveto no fogo com a mesma energia com que joguei a memória pra longe. “Tinha arrumado companhia e deu ruim. Tem gente que desvirtua até o mar.”
Ele só colocou o braço sobre meus ombros, me puxou de leve e soltou “Então temos dois fracassados. Mas a gente vai dar a volta por cima.”

Não sei explicar o que acontece no meu peito quando ele fala essas coisas. Acho que o mundo expira (e eu também).

Foi ali, com o crepitar das chamas e a mata segurando o silêncio, que ele retomou o assunto da brisa... “Os sentidos ficam mais aguçados, textura, maciez… Palmier, lembra? Mas pra avaliar chapado, só te provando.”
E me beijou. Devagar, quente, seguro. Meu corpo reagiu inteiro. Respiração curta, mão subindo até o joelho dele, uma paz funda, quase um ritual. Não existia tempo, só toque.



Quando ele se afastou, alguém lá fora insistiu em existir com uma notificação qualquer. Revirei os olhos, rimos. Ele voltou com um sorriso bobo e disse que eu era termogênica. Respondi que sim, e que senti tudo, inclusive a barba arranhando.

Depois, a pergunta mais honesta da noite...
“Quer entrar? Aposto que agora bateu fome.”
E bateu. Não só fome, também aquela vontade silenciosa de continuar perto um do outro.