Latest Blog Post
🌙 Lua adversa... Eu em fases!

Despertei quando o jato pousou em Jacarta, ainda meio tonta do sono interrompido, olhei pela janela e vi a cidade se estendendo sob uma névoa quente, como se o amanhecer tivesse pressa de me receber, ou de me engolir. Vinda de Baku, mais uma madrugada de viagem, mais uma cidade, mais uma chegada que parece saída do mesmo sonho recorrente. Já perdi a conta de quantas vezes vivi esse instante entre o pouso e o despertar, entre o palco e o silêncio.
Enquanto o avião taxiava, o poema “Lua Adversa”, da Cecília Meireles, veio inteiro na minha mente, como se tivesse sido escrito pra mim, ou por mim, em algum tempo antigo que já não sei nomear.
“Tenho fases, como a lua...” e tenho mesmo. Às vezes me sinto cheia, iluminando tudo e todos; às vezes minguo, me recolho, escondo até de mim. É estranho viver em turnê, trocando de fuso horário e de humor com a mesma frequência. O corpo está sempre cercado, mas o coração… o coração, esse anda sempre em trânsito.
Há dias em que sou inteira do palco ou com meus amores, do público ou na intimidade a 2, da música ou da poética de me ser, quando me deixo ser “tua”, como diz o poema. E há dias em que preciso desaparecer, virar sombra, ficar só minha, pra lembrar quem sou por baixo das luzes e dos aplausos. Cecília me entende. Ela também sabia dessa rotação íntima, dessa melancolia que roda o seu interminável fuso.
É curioso: as pessoas me veem sorrindo, vibrando, cantando, mas nem imaginam quantas vezes estou apenas cumprindo a órbita que me cabe. Às vezes me sinto um corpo celeste girando em torno de algo que não sei nomear, talvez o amor, talvez a arte, talvez a própria falta de chão.
Em cada cidade, deixo um pedaço de mim. Em Ankara, nova formação, em Jacarta, novas esperanças de tudo de bom. E em mim, essa certeza lunar: o que hoje é luz, amanhã pode ser ausência. E tudo bem! Sou feita de fases e é nelas que me encontro, mesmo quando me perco
Velma Cescente!
Posted 10/27/2025, 1:00 PM