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Existe uma regra não escrita sobre amizade: se ela sobreviver à montagem de um móvel com manual em sueco, ela dura para sempre. Na sexta seguinte à nossa noite do macarrão, decidimos colocar essa teoria à prova. Nossa missão, que batizamos de "Operação Lar Doce Lar", me promoveu de convidado para co-arquiteto do caos.

Nosso primeiro grande inimigo foi uma estante de livros. A caixa veio acompanhada de um manual que parecia ter sido escrito em hieróglifos suecos, com diagramas que desafiavam as leis da física. Ela, impaciente, queria resolver tudo na base da intuição e da força. Eu, tentando parecer o adulto responsável, insistia em seguir o passo a passo. O resultado? Gastamos vinte minutos discutindo sobre o "lado A" e o "lado B" de uma prateleira idêntica.

As pausas eram as melhores partes. Eram movidas a pizza comida na caixa, sentados no chão da sala, usando um rolo de papel toalha como porta-copos. A caixa de som, agora dona do seu canto, nunca ficava em silêncio, tocando algum funk de letra duvidosa. Em um desses momentos, ela se levantou, deu uma volta pelo cômodo e parou no meio da sala, olhando tudo ao redor. As luzinhas, a estante torta, os quadros que acabamos de pendurar (e que eu tinha certeza de que estavam desalinhados).

O eco do apartamento vazio tinha sumido, substituído pelo som abafado dos livros, das almofadas no sofá e da nossa playlist.

— Está parecendo... um lar — ela disse, com um sorriso que ocupava o rosto todo.

E eu soube, ali, que meu trabalho de "melhor amigo-montador-de-móveis" estava quase no fim. Mas o de ser testemunha da sua felicidade? Esse estava só começando. E não havia projeto no mundo que eu preferisse participar.