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Se algo é realmente seu, ele nunca se perde. De algum modo, sempre encontra o caminho de volta.

Estou parada na porta da igreja com o buquê entre as mãos. Tudo ao meu redor parece suspenso. Não sei se o silêncio que sinto é real ou se são os meus pensamentos que estão fazendo tanto barulho que abafam qualquer outra coisa. As mãos suam. O coração bate rápido demais. E as borboletas, estão agitadas como nunca estiveram antes.

Há algo de doce na persistência. Há algo de verdadeiro em resistir às dores e continuar acreditando. E é exatamente por isso que estar aqui, agora.

As trombetas tocaram e eu soube que era hora. Endireitei os ombros. Forcei um sorriso natural, sem sucesso. Era impossível conter o que eu sentia. O sorriso se alastrou sem pedir permissão e tudo em mim parecia pulsar com uma alegria tão imensa que quase doía. Queria dizer ao mundo o que sentia. Mas naquele momento, o mundo era apenas ele.

Foi aí que o vi.

Sozinho no altar. Me esperando. Aquele sorriso. A igreja vazia. Os bancos solitários, o chão silencioso. Só a luz da lua atravessando os vitrais, iluminando tudo com uma calma prateada. Era um vazio que não pesava. Pelo contrário. Era como se todo o universo estivesse ausente para que só nós estivéssemos presentes. Só nós dois.

Caminhei até ele devagar. Cada passo trouxe uma lembrança. Me vi mais jovem, confusa, no instante em que o conheci de verdade. Me vi frágil quando ele partiu. E me vi inteira quando ele voltou. Frente a frente, deixei escapar uma risada baixa.

Passei a língua pelos lábios e, antes que o silêncio nos engolisse de vez, murmurei:

- Só nós dois?

Ele sorriu, como quem já tinha a resposta antes mesmo da pergunta. Beijou minha testa. E então, com as mãos quentes sobre minha barriga, encostou a testa na minha. Fechei os olhos e naquele segundo tudo fez sentido.

- Só nós três - ele disse.